sábado, 23 de agosto de 2008

OURO PARA O BRASIL! Seleção feminina de vôlei exorciza o passado e conquista o título em Pequim

Meninas do vôlei bloqueiam todos os fantasmas e conquistam o ouro olímpico

Seleção brasileira mantém a cabeça no lugar, vence as americanas e chega ao topo do mundo com uma vitória redentora nos Jogos de Pequim

GLOBOESPORTE.COM Pequim

A cena é recorrente.

Vitórias importantes no vôlei costumam espalhar jogadoras em volta das câmeras de TV. Encher o pulmão e deixar explodir a alegria de um ouro olímpico, contudo, não é tarefa para qualquer seleção. Neste sábado, as meninas do Brasil aprenderam o que isso significa.

Pelo chão da quadra em Pequim, as jogadoras se misturavam em choro, sorrisos, gritos e desabafos. José Roberto Guimarães, único técnico a conquistar o ouro no masculino e no feminino, ajoelhou-se e agradeceu. Os abraços exorcizavam mais de uma década de angústia.

Com a vitória por 3 a 1 sobre os Estados Unidos (25/15, 18/25, 25/13 e 25/21), o ouro, enfim, pertence à seleção brasileira. Pouco importa que o time perdeu um set pela primeira vez nos Jogos, porque agora existe algo muito maior a celebrar.

A festa tomou formas diversas. Antes de ser lançada para o alto pelas companheiras, a levantadora Fofão se derramou em lágrimas no ombro do técnico. Fabi e Mari, com o grito contido na garganta, pediram silêncio aos críticos. Enroladas em bandeiras verde-amarelas, as campeãs olímpicas vibravam, às vezes sem rumo, até encontrarem alguém para abraçar.

O início tenso

O último passo no caminho, claro, não foi fácil. Para uma seleção que nunca tinha chegado tão perto do ouro olímpico, o início da partida colocou no rosto das brasileiras uma expressão de ansiedade. Nervoso, o time permitiu que as americanas largassem na frente. Com a experiência de quem sentiu o gosto do ouro em Barcelona-1992, no masculino, Zé Roberto pedia calma. Aos poucos, o saque de Paula Pequeno e os ataques de Mari desmontaram o sistema tático do outro lado da rede. Uma das melhores em quadra, Sheilla gritava:

- Vamos, vamos!

As outras cinco obedeceram. Sem perder o ritmo, a equipe manteve a vantagem acima dos cinco pontos, mas ainda havia um fundamento sumido: o bloqueio. A muralha que tinha parado a Itália, enfim, apareceu neste sábado com Fabiana e Walewska. Azar de Logan Tom, que vinha virando todas as bolas. Comandadas por uma vibrante Fofão, as meninas chegaram ao set point. No saque, Paula fechou em 25 a 15.

O primeiro - e único - tombo

Na segunda parcial, as americanas escolheram Mari como vítima. Sacar nela era a tática para tirá-la do ataque. Logo ela, a aniversariante do dia. O pior é que deu certo. As bombas dos EUA destruíram o passe brasileiro, e nem o tempo pedido por Zé Roberto conseguiu consertar o estrago. A solução foi sacrificar Mari e colocar Jaqueline para equilibrar a recepção, mas já era tarde. Após atravessar 22 sets em Pequim sem tomar conhecimento das adversárias, o Brasil levou o primeiro tombo: 25 a 18.

Para um grupo que se acostumou a sofrer com decepções em momentos decisivos, o momento era tenso. A torcida no Ginásio da Capital apoiava o Brasil, mas àquela altura era difícil prever como o time ia reagir ao primeiro tropeço de uma campanha até então perfeita.

Recuperação rápida

Veio o terceiro set, e a seleção percebeu que, apesar da parcial perdida, a medalha ainda estava em jogo. Zé Roberto não parava de orientar as atletas um minuto sequer. E a resposta veio em grande estilo. Sheilla continuava impecável no ataque de fundo e nas largadas. Mari, agora com 25 anos, mostrou maturidade. Passou longe da jogadora de quatro anos atrás, jovem e insegura. Como ela mesma costuma dizer, o passado já foi embora.

A empolgação do Brasil era tamanha no terceiro set que Paula chegou a ser repreendida pelo juiz durante uma comemoração. Com Valeskinha em quadra, a seleção espantou o trauma: 25 a 13.

Antes do quarto set, as brasileiras se reuniram no canto da quadra. Era a hora do esforço final pelo ouro. De cara feia, como se fosse possível, Paula Pequeno decretou:

- É agora!

E foi.

Enfim, a redenção

Fofão vivia o jogo da vida, já que vai se despedir da seleção após os Jogos. Ainda assim, a levantadora manteve a calma e passou tranqüilidade às companheiras. O semblante sereno contrastava com a cara de raiva de Paula Pequeno. O set foi difícil, ao contrário dos anteriores. As americanas ficaram boa parte do tempo à frente, mas o Brasil chutou para fora da quadra o tal bloqueio psicológico. Amarelo, só o do ouro. Que veio justamente no ataque para fora da melhor jogadora americana, Logan Tom.

O 25 a 21 fez com que as atletas partissem enlouquecidas para a comemoração, deixando explodir uma festa que estava contida há mais de uma década. Agora, sim, dá para mirar a câmera, encher o peito e gritar: o vôlei feminino do Brasil é campeão olímpico.
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Vôlei feminino acaba com pecha de amarelão e fatura inédito ouro na China

Meninas do Brasil sobem ao lugar mais alto do pódio em Pequim e conseguem o melhor resultado da história da modalidade em Olimpíadas

GLOBOESPORTE.COM Pequim

A seleção feminina de vôlei afastou em grande estilo a pecha de amarelona que a persegue desde o quarto lugar nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Comandadas por José Roberto Guimarães, as meninas superaram todas as dificuldades e conquistaram uma inédita medalha de ouro nos Jogos de Pequim.

Antes de brilhar na China, a seleção feminina havia conquistado duas medalhas de bronze em Olimpíadas. A primeira delas em Atlanta-1996 e a outra nos Jogos de Sidney, em 2000. Essas duas campanhas foram comandadas por Bernardinho, atual técnico da seleção masculina, com a qual atingiu marcas incríveis.

A primeira vez que o time feminino do vôlei brasileiro participou de uma edição dos Jogos Olímpicos foi em Moscou-1980. Desde então, a equipe não ficou fora mais nenhuma vez. E tem colecionado boas jogadoras, como Ana Moser, Leila, Ana Paula, Fernanda Venturini, entre tantas outras que fizeram sucesso.

O momento do time, porém, não era dos melhores nos últimos anos. Embora tivesse na maioria das fases finais de todas as competições que disputou, os fracasso nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e no Pan-Americano do Rio de Janeiro, no ano passado, colocaram uma nuvem de desconfiança sobre o time de Zé Roberto.

A equipe chegou como uma das favoritas ao ouro na Grécia. Porém, na semifinal contra a Rússia perdeu de maneira incrível. As brasileiras tiveram a chance de matar o jogo em sete match points, mas permitiu que as russas reagissem e conquistassem a vaga na decisão do primeiro lugar, algo que seria inédito para o Brasil.

Na disputa pelo bronze, contra a arqui-rival Cuba, o time foi apático e terminou os Jogos com um decepcionante quarto lugar. Já no Pan-Americano, o encontro com as cubanas foi na decisão. E uma derrota por 3 sets a 2 decretou o tropeço em casa.
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Zé Roberto desabafa após a vitória: 'A nossa medalha é amarela, mas é ouro'

Após quatro anos engasgado com críticas, técnico solta o verbo em Pequim

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O técnico José Roberto Guimarães caiu de joelhos no chão e olhou para o céu quando a seleção brasileira de vôlei feminino marcou o ponto da vitória na final dos Jogos Olímpicos de Pequim. Dia histórico para as jogadoras, que subiram no lugar mais alto do pódio pela primeira vez. O momento mereceu um desabafo do treinador.

- A nossa medalha é amarela, mas é ouro.

As palavras do técnico foram direcionadas às pessoas que não se cansaram de chamar a equipe de amarelona, de time que chega à final e não decide. As críticas são, principalmente, em função do 24 a 19 de Atenas, quando a seleção perdeu na semifinal para a Rússia após estar em vantagem, e da derrota no Pan-Americano, no Rio de Janeiro.

- Elas mereciam essa vitória. A gente sabia que era uma questão de tempo. No masculino, antes de eu ser técnico, isso aconteceu também, chegamos perto e não ganhamos. Aos poucos, com experiência e jogos internacionais, chegamos lá. Eu falava: "A nossa hora vai chegar, aquela bola vai cair". Hoje, ela caiu. O trabalho de quatro anos que fizemos foi coroado – fala ele.

Único campeão em duas categorias

Além do ouro com as meninas, Zé Roberto se tornou o único treinador campeão nas duas categorias, já que, nas Olimpíadas de Barcelona-1992, levou o título no masculino. Com um sorriso no rosto, ele conta que não pensa nisso. Apenas tem a agradecer.

- Depois de Atenas tivemos um início complicado, mas valeu a pena. Tenho que agradecer a minha família, que me deu um suporte após a derrota de 2004. O apoio da minha esposa e das minhas filhas, que estão aqui na China, foi fundamental. Agradeço também a todos que me ajudaram a chegar até aqui, que contribuíram para essa história – diz ele.
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Mari manda recado a críticos: 'Agora, vão ter que aplaudir de pé'

Ponteira faz pedido de silêncio e diz que medalha é prova de volta por cima

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Aos 25 anos, Mari sacramentou a volta por cima em grande estilo. No dia de seu aniversário, a ponteira ajudou a seleção a subir, pela primeira vez, ao lugar mais alto do pódio olímpico. Uma vitória com um sabor ainda mais especial para uma atleta eleita como o símbolo de uma geração "amarelona".

- Foi coisa de Deus ganhar um presente desses. Não foi fácil, a gente passou por muita coisa. Essa é a prova do nosso trabalho. Tínhamos motivos para desistir, achar que éramos fracassadas, mas não fizemos isso. Essa medalha é a prova – afirma, em entrevista ao SporTV.

Pouco depois da vitória sobre os Estados Unidos, a ponteira e a líbero Fabi fizeram um sinal pedindo silêncio às câmeras. O gesto foi a forma encontrada por Mari para se redimir após anos de críticas.

- Para quem criticou, silêncio total. Agora, vão ter que aplaudir de pé, pois somos campeãs olímpicas - diz a ponteira, que pretende tatuar a palavra "vitória" em chinês.

A líbero Fabi, que combinou o gesto com a amiga antes da final, lembrou os anos de sofrimento e de cobrança por causa das semifinais de Atenas-2004, quando a seleção perdeu para a Rússia após vencer os dois primeiros sets e liderar o terceiro por 24 a 19. Mari, que errou vários ataques na ocasião, foi tachada como o símbolo da derrota.

- Ela sofre há quatro anos por causa de uma bola. Sei o que ela sofreu, as pessoas não imaginam. Essa medalha foi para as pessoas esquecerem, ela não podia ficar marcada. Estava na hora de a gente coroar esse trabalho.
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Após cinco Olimpíadas, Fofão se despede da seleção com o ouro no peito

Levantadora de 38 anos diz que aposentadoria 'já está pensada'

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A histórica medalha de ouro do vôlei feminino nos Jogos de Pequim teve um gostinho especial para uma das jogadoras. Após quatro Olimpíadas como "coadjuvante", a levantadora Fofão se despediu da seleção brasileira neste sábado na final contra os Estados Unidos com direito a papel de destaque.

Desta vez, ao contrário das últimas quatro Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996, Sydney-2000 e Atenas-2004), a paulista Fofão, de 38 anos, foi decisiva. Antes reserva de Fernanda Venturini, em Pequim, esteve em ação em todas as partidas e teve um desempenho brilhante.

Depois dos dois bronzes (Atlanta e Sydney), a levantadora comemora agora a primeira medalha de ouro do Brasil no vôlei feminino. Uma conquista digna para encerrar uma carreira vitoriosa na seleção.

- Não podia esperar coisa melhor. Parar a gente vai, porque isso já está pensado. Mas nem quero pensar nisso agora – disse Fofão após a vitória sobre os Estados Unidos por 3 a 1.

As outras estrelas da seleção homenagearam Hélia Rogério, apelidada de Fofão na infância devido às bochechas gordinhas. Não faltaram abraços, agradecimentos e muita festa.

- O grupo todo merecia muito isso. Mas a Fofão merecia mais ainda – afirmou Sheilla.
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Números do jogo

Sheilla foi a maior pontuadora do Brasil, com 19 pontos, seguida de Paula Pequeno, com 16, e Mari, com 15. No bloqueio, Walewska e Fabiana fizeram quatro pontos cada uma.

Pelo time americano, Logan Tom foi a maior pontuadora com 15 pontos, seguida por Heather Bown, com 10.

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