quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Medalhistas têm dificuldade para manter fama após os Jogos

Os heróis olímpicos Michael Phelps e Usain Bolt com certeza farão fortuna a partir de seus êxitos em Pequim, mas pensemos por um momento nos ganhadores das outras 293 medalhas de ouro.

Os especialistas em marketing estimam que só um punhado de atletas será capaz de converter suas cobiçadas medalhas douradas em lucros para a vida, depois dos Jogos Olímpicos. E, quer gostemos ou não, a aparência importa.

A ginasta Nastia Liukin (esq.), aos 18 anos campeã olímpica no individual geral, e seu pai-treinador, o medalhista de ouro em Seul 1988, Valery Liukin, prevêem que a fama da jovem obtida na China financiará sua vida futura.

"O momento é este. No fim do dia não é apenas trabalho duro. É necessário assegurar que se possa desfrutar o resto da vida", disse o pai de Liukin, já pondo em ação a máquina publicitária.

O agente de Liukin, Evan Morgenstein, disse que a ginasta cumpre todos os requisitos para passar de grande atleta a celebridade. Isso porque conta com boa aparência, personalidade e uma boa história, com seu pai famoso e uma série de lesões superadas com sucesso.

"É muito feminina. E nos Estados Unidos tem uma imagem de menina doce. Seu futuro se apóia em seus feitos e em como é percebida pelo público", disse Morgenstein em um evento promovido por um possível futuro patrocinador da chinesa. A empresa é apenas uma das 15 que estão atrás de Liukin.

"Nem todos têm uma (boa) história, nem todos têm os elementos necessários. Algumas empresas têm telefonado para contratá-la como modelo", acrescentou.

Embora pese o recorde de telespectadores em todo o mundo, que se registrou nos Jogos de Pequim, o agente disse não acreditar que surjam celebridades esportivas em maior número nestes Jogos do que nos anteriores.

"O que se verá, sim, no impacto dos que saltam à fama, é que será explosivo," disse. "Haverá maior número de oportunidades menores, para mais pessoas. Não serão negócios grandes", afirmou.

Muitas delegações nacionais levam para casa atletas que lhes dão orgulho, mas resta ver se esse orgulho continuará, quando terminarem estes Jogos e começar a próxima temporada esportiva. Quatro anos entre cada edição olímpica é muito tempo.

"Só uns poucos conseguem se manter, se continuam tendo sucesso pelos anos seguintes e trabalhando com a imprensa" disse Peter Walshe, diretor de marcas globais da empresa de pesquisa de mercado Millward Brown.

Retribuição olímpica

É o governo que paga alguns dos participantes, mas a parte principal de salários se completa com o que recebem de patrocinadores, propagandas e às vezes prêmios.

"Esses atletas precisam ter um gancho adicional, uma história, uma atividade ou carreira que transcenda a glória Olímpica", explicou David Clarke, do Sports Business Institute, da Universidade da Carolina do Sul.

Alguns atletas chegaram à China ligados a uma marca. A russa do salto com vara, Yelena Isinbayeva, 26 anos e recordista mundial, já tinha contrato com a Toshiba avaliado em 1,2 milhão de dólares. Ganhou o ouro.

A fotogênica nadadora australiana Stephanie Rice, 20 anos, ganhadora de três medalhas de ouro, antes da Olimpíada fez um anúncio de lingerie para uma revista, junto com o ex-noivo também nadador Eamon Sullivan.

Foi rapidamente manchete de capa de revistas australianas e recebeu o apelido de "a garota aquática de um milhão de dólares".

Nadadora dos Estados Unidos, Amanda Beard não conseguiu medalha, mas usou a carreira de modelo para avançar no esporte, depois dos Jogos. Outros se vão da China com possibilidade de construir uma marca - como a nadadora britânica Rebecca Adlington (foto) e o ciclista Chris Hoy. Ambos têm muitas perspectivas de vender sua imagem antes dos Jogos de Londres 2012.

Dara Torres, nadadora norte-americana de 41 anos, e a maratonista britânica Paula Radcliffe, 34 anos, são uma grande atração para as mulheres acima de 30 anos.

Os especialistas em publicidade sustentam que o êxito também depende da nacionalidade do atleta e do esporte. Eles dividem o mapa em três categorias.

Os esportes como tênis, basquete e futebol ostentam altos recursos financeiros durante o ano todo e muitos de seus atletas são milionários.

Depois, há esportes ligados aos Jogos Olímpicos, que atraem os telespectadores - e seus anunciantes - como natação, atletismo e ginástica. Finalmente, vêm os esportes que o público ignora, além de resultados, como levantamento e luta.

"Os Jogos podem abrir portas para o futuro, mas a chave do sucesso é oferecer alguma coisa diferente. Só ser atleta olímpico não garante nada", disse Walshe.

Não é preciso dizer aos atletas que voltam para casa que devem retomar seu trabalho, que lhes permite financiar sua paixão - o esporte. Jogador de duplas de badminton, o norte-americano Howard Bach, que cursou Negócios na universidade, luta para viver da atividade esportiva.

"Não ganhei muito no ano pasado. Algo como 20.000 dólares", disse. "Trabalho meio período na Home Depot (loja que vende artigos de bricolagem). Sou só caixa", disse.

Reuters

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