segunda-feira, 30 de agosto de 2004

É ouro de novo, porra!

29/08/2004 - 10h16
Brasil bate a Itália, ganha ouro e faz a melhor campanha nos Jogos
Murilo Garavello
Enviado especial do UOL
Em Atenas (Grécia)

Ninguém é melhor do que o Brasil no vôlei masculino mundial. Neste domingo, a seleção passou pela Itália por 3 sets a 1, com parciais de 25-15, 24-26, 25-20 e 25-22, e garantiu o título dos Jogos Olímpicos de Atenas. Agora, o país é o atual campeão dos quatro principais torneios do mundo: além das Olimpíadas os brasileiros venceram o Campeonato Mundial, a Copa do Mundo e a Liga Mundial.

Com a vitória sobre a Itália no vôlei, o Brasil também sacramenta a sua melhor campanha nos Jogos Olímpicos. O país deixa Atenas com um recorde de quatro medalhas de ouro, superando as três conquistas de Atlanta-1996. Robert Scheidt e a dupla Torben Grael/Marcelo Ferreira, na vela, e Ricardo e Emanuel, no vôlei de praia, foram os outros brasileiros que ganharam a medalha de ouro.

O título da Olimpíada coroa definitivamente a Era Bernardinho na seleção. Desde que o treinador assumiu, em 2001, o time ficou quase imbatível. Foram 15 campeonatos disputados, com 12 títulos. O jeito enérgico e estressado do treinador casou muito bem com uma geração talentosíssima, que superou em termos de resultados o time campeão olímpico em Barcelona-1992.

Maurício e Giovane são os dois únicos remanescentes da equipe medalha de ouro na Espanha. Com 36 e 33 anos, respectivamente, eles dificilmente vão disputar os Jogos de Pequim-2008. Na final contra a Itália, eles não entraram em quadra. Mesmo assim, conseguiram se inscrever na lista de bicampeões olímpicos brasileiros, ao lado de Adhemar Ferreira da Silva, Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira.

Quem também pode ter disputado a sua última Olimpíada com a seleção é o capitão Nalbert, que já mostrou interesse em trocar a quadra pela praia. O ponta virou sinônimo da superação da equipe. Depois de sofrer uma operação no ombro que colocou em risco sua participação em Atenas, Nalbert se recuperou e garantiu presença nos Jogos. Sem estar em sua melhor forma física, o ponta foi para a reserva, mas teve uma participação importante para a conquista do título.

O substituto de Nalbert foi Dante, um dos jogadores mais criticados pela campanha fracassada nos Jogos de Sydney-2000. Em Atenas, entretanto, o ponta foi à forra, tornando-se um dos principais nomes da seleção. A manutenção da qualidade de jogo do Brasil, não importando quem esteja em quadra, é uma das características da Era Bernardinho.

Desde que assumiu a seleção, o treinador afirmou que a equipe tinha "12 titulares", fazendo com que medalhões como Maurício, Giba e Giovane passassem pelo banco. E os "reservas", muitas vezes, decidiram jogos importantes, como a final do Mundial de 2002, contra a Sérvia e Montenegro, que terminou com um ace de Giovane. Ou a decisão da Liga Mundial de 2004, diante da própria Itália, na qual o Brasil não pôde contar com metade de seu time base.

"É um misto de alívio e alegria. Vamos curtir um pouco essa sensação", disse Bernardinho logo após a partida.

O jogo

Para fugir do "melhor bloqueio do mundo", nas palavras do próprio técnico Bernardinho, o Brasil apostou nas bolas rápidas. E no primeiro set a tática deu resultado. Com uma boa variação de jogadas do levantador Ricardinho, e ataques precisos de Dante, a seleção brasileira dominou a parcial.

A Itália até começou na frente, abrindo três pontos com um ataque para fora de Giba (5-2), mas o Brasil fez cinco pontos seguidos, com direito a dois bloqueios de Dante sobre Andrea Sartoretti, o principal atacante italiano.

Sartoretti continuou o set sem conseguir virar as bolas, e o Brasil passou a abrir vantagem, graças principalmente aos erros italianos. Um ataque para fora de Alessandro Fei deixou a diferença em quatro pontos (13-9). Depois, foi a vez de Samuele Papi mandar para fora (18-12). E foi em outro erro italiano que o Brasil fechou a parcial em 25-15.

No segundo set, Sartoretti conseguiu fugir da marcação, e o saque italiano dificultou o passe brasileiro. Assim, a partida ficou bastante equilibrada. O Brasil conseguiu uma pequena vantagem de dois pontos até a metade da parcial, mas a Itália jogou melhor os pontos decisivos.

Com um ace, os italianos ficaram na frente (19-18). O Brasil chegou a empatar, mas um bloqueio definiu a vitória da Itália na parcial por 26-24.

No terceiro set, o que definiu a vitória do Brasil foi o saque. A seleção marcou cinco pontos neste fundamento, sendo três com o serviço de Gustavo. E a Itália em nenhum momento chegou a ameaçar de fato a seleção brasileira.Assim, o Brasil abriu uma vantagem que variou de três a cinco pontos, apesar do bloqueio não ter funcionado muito bem. Em compensação, brilhou a estrela de Giba, tanto no ataque quanto na defesa. E os brasileiros ganharam a parcial por 25-20.

No quarto set, o Brasil deu um show. A Itália até abriu dois pontos de diferença, com um bloqueio de Papi (5-3). Mas uma seqüência muito boa, com dois erros italianos, um ataque de Giba e outro de Dante fizeram com que os brasileiros pulassem na frente (10-6).

A Itália não desistiu, e empatou com um bloqueio em Giba (13-13). E um ataque de Sartoretti, que desviou em Andre Heller, colocou os italianos na frente (15-14). O Brasil se recuperou e, com dois pontos de bloqueio de Anderson, que havia entrado no lugar de André Nascimento, retomou a liderança (20-18). No final, a seleção apenas administrou a vantagem para fechar a parcial em 25-22 e garantir o título.

Com a vitória de 3 a 1, a seleção pôde finalmente comemorar. Os jogadores se abraçaram e choraram, enrolados com a bandeira do Brasil. E deram o tradicional "peixinho" na quadra, marca registrada dessa geração."Este título não foi construído em 15 dias, mas sim em quatro anos de trabalho e sacrifício", disse o capitão Nalbert.
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Foi um jogaço. A Itália não tem mais a geração de Zorzi, Tofoli e afins, mas ainda tem um timaço, que deu muito trabalho ao time de ouro do Bernardinho. E agora é comemorar o ouro e pensar na renovação. Giovane, Maurício e Nalbert são nomes que não farão mais parte da seleção. Os dois primeiros pela idade, Nalbert porque quer trocar a quadra pela praia, fixando residência no Rio de Janeiro. Mas dizem que a renovação é constante e que continuaremos no topo do vôlei masculino.

E que a atitude deste time e do Bernardinho inspire a todos nós.

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