Domingo, 24 de outubro. Todo mundo acordando cedo, comendo logo pra se mandar pro autódromo. Com mais ônibus, menos trânsito, mas fazendo frio e chuviscando, lá fomos nós. Chegamos por volta de 7 da manhã, nosso setor com pouca gente, mas alguns locais estratégicos já estavam ocupados, incluindo o nosso, em frente à pole. Mas nada que um pouco de negociação e espaço pra todo mundo se acomodar.
Como no dia da corrida sempre tem mais gente que nos treinos, aparecem umas figuras nonsense pelo caminho. A pior foi uma moça que foi toda paramentada de Ferrari, ajeitadinha, e com o marido ou seja lá o que era ao lado. Só que o cara não estava lá pra torcer, só estava pra vigiar o patrimônio. Até aí, normal. Só que o figura - um gordo imenso, de boné e óculos escuros - resolveu levar uma verdadeira banca de jornais pro autódromo. Sério, o cara tinha pelo menos três revistas semanais e mais dois jornais de domingo (aquelas coisas finas e delicadas, ainda mais em São Paulo) numa sacola. O fato é que ele virou fonte de leitura da galera ao redor nas esperas entre um evento e outro. Outra - essa gringa - foi vítima de assédio com o marido ao lado, com direito a foto e tudo. Foi de se esborrachar de rir.
Outra figura tava literalmente esbanjando grana na hora de comprar cerveja ou refrigerante (a gente levou água e comida nas bolsas de viagem). Eram reais, dólares, euros na mão do camarada. Ele vestia uma camisa da Renault. Cheguei a perguntar onde ele tinha comprado. Daí ele solta "Paris". Fiz aquela cara de "pô, velho, não humilha"...:)
Os eventos em Interlagos começaram com uma corrida de kart junior, bem bacana, mas ligeira, ligeira. Pequeno intervalo, começou uma corrida de bicicletas, na qual uma parte dos últimos colocados era obrigada a abandonar a prova se não completasse a volta. Pense no mico pra quem tinha que em vez de passar pela linha de chegada, recolher pra parte externa do autódromo... A chegada foi emocionante, pelo menos cinco pedaleiros lutando pela vitória.
Em seguida, rolou um desfile dos carros de serviço do Grande Prêmio. Nada demais. A resenha teve seqüência com as voltas em homenagem a Ayrton Senna, com seu sobrinho Bruno guiando a Lotus número 12 clássica de 1985 e 86. Foi emocionante. Bruno já tinha dado essas voltas no sábado, mas com pouca gente no autódromo e com direito a passeio na grama. Mas domingo deu tudo certo, foi um delírio em Interlagos.
Terminada a volta, tivemos uma boa corrida de Fórmula Renault, com direito a bons pegas, carro ficando na largada... esqueci o nome do camarada, mas o vencedor guiava um carro vermelho patrocinado pela Coca-Cola e o lanterninha um cara que guiava um carro azul e amarelo patrocinado pela CVC Turismo, tanto que toda vez que ele passava eu o chamava de turista... eu sei, foi fraca.
Assim que acabou a corrida da F-1 Renault, entrou em cena a provável grande estrela do GP: um boneco do burro do Shrek que um mecânico da Jaguar carregava pra todo lado. O cara tirou foto com o burro no alto do pódio, na posição de pole position, fez a festa com a galera. Deu pinta de que aquilo era algum tipo de protesto pelo fim da equipe... na hora da fotografia oficial dos pilotos, todo mundo chega, menos Michael Schumacher. Pois bem: o cara da Jaguar bota o burro na cadeira reservada ao campeão do mundo! Foi de esborrachar de rir. E quando chegou, o alemão veio cheio de marra e sentando no colo do Rubinho... constrangedor. Fotografias tiradas, pilotos começam a desfilar pelo autódromo num dos carros de serviço. Todos pareciam felizes de estarem ali naquele final de temporada com cara de corrida amistosa.
Fim do desfile, ligeira espera e começa a corrida do Troféu Maserati, coisa de milionário que resolve botar seus carrinhos de milhares de dólares pra correr. Mas a corrida foi boa, com acidentes, um camarada estourou pneu bem na nossa frente - tanto que subiu aquele cheiro de borracha queimada, mas tudo deu certo. Não sei quem ganhou a corrida. Confesso que antes de outubro, nunca tinha ouvido falar nessa categoria.
Fim da Maserati, começou um treco pentelho que já tinha acontecido no sábado: o VIP Charity Drive, que consiste em camaradas exibindo suas Ferrari em Interlagos. Não sei como é feita a seleção, se são os donos de Ferrari que levam seus carros ao autódromo... um deles inventou de parar pra pegar uma mulher bem na nossa frente... foi pouco xingado...
Pois a partir dali era chegada a hora. Uma espera de uma hora, mais ou menos, que parecia eterna. Mas logo começou a movimentação dos boxes e a arrumação dos carros no grid. Nesse ínterim, chove. Pouco, mas o suficiente pra deixar a pista no mínimo úmida. Expectativa pra saber que tipo de pneu cada equipe iria usar.
A Ferrari do Barrichello bem à nossa frente. A do Schumacher nem dava pra ver de onde a gente estava, hehehehe... e a grande surpresa era Felipe Massa em quarto com a Sauber.
Chega a volta de apresentação, barulho nas alturas, ansiedade. Todos esperavam finalmente a redenção do Barrichello, a primeira vitória em casa, o fim de um tabu de dez anos sem brasileiros pontuando. Carros páram no grid. Sobe o giro dos motores. Barulho ensurdecedor. Luzes vermelhas vão se apagando, largada! Rubinho larga mal, mas ultrapassa Montoya na reta oposta e, pra delírio do povão em Interlagos, passa Raikkonen na reta dos boxes e assume a liderança. Só que Rubinho (e Schumacher também, mas este não importava naquele momento) largaram com pneus intermediários, e a chuva não voltou. Resultado, ele teve que parar nos boxes e, com isso, mandar a corrida pro saco. Daí pra frente até Massa chegou a liderar, mas pouco depois Montoya assumiu a ponta para não perder mais. Raikkonen estava sempre na cola, mas nunca chegou a realmente ameaçar a vitória do colombiano. Rubinho acabou em terceiro. Resultado: festa da torcida da terra de Valderrama e Higuita. Morgação entre os brazucas. Cara de "what happened" entre os gringos torcedores do Schumacher. Chegamos até, na saída, a tirar foto com um casal de sul-africanos que foram extremamente simpáticos (e pacientes) conosco e com todos ao redor.
Na saída, a caça a uma loja da Williams, já que estava de olho numa camisa deles, mas depois de andar, andar e finalmente achar, vi que a camisa era coisa baratinha: 540 reais. Pano rápido, fim de papo.
segunda-feira, 8 de novembro de 2004
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