terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Cineclube exibe Dogville pirateado

Distribuidor do filme de Lars Von Trier avisa que vai acionar judicialmente UFPE por "sessão secreta"

Luciana Veras
Da equipe do DIARIO


As sessões do cineclube Barravento, formado por alunos do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, ocorrem às terças-feiras desde maio/2001. Em 16 de dezembro de 2003, a reunião foi anunciada, como de costume, por cartazes pregados nos quadros de aviso do CAC. Branco, adornado por bolinhas pretas, com uma interrogação no meio, o panfleto, também distribuído pela Internet, informava uma "sessão secreta" às 17h30 daquele dia. A projeção misteriosa, para cerca de trinta pessoas, veio a ser de Dogville, o filme de Lars Von Trier exibido no Brasil somente nos Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo, com estréia prevista para o dia 16. Resultado: ultrajado pela pirataria, Jean-Thomas Bernardini, dono da Imovision, distribuidora de Dogville, já acionou seus advogados para interpelar judicialmente a UFPE.

"É lamentável. Mandei notificar a universidade por meio de advogados. Fizeram uma sessão privada do filme e é preciso que mostremos, com força, a não-aceitação dessa prática", diz Jean-Thomas à reportagem do DIARIO, por telefone da sede da Imovision, em São Paulo. Ele tomou conhecimento da "sessão secreta" do longa de Von Trier pela mesma teia cibernética utilizada pelo Barravento: "Vi na Internet que o filme, que não passou no festival de fim de ano daí porque os internegativos estavam no México, tinha sido exibido em salas alternativas. Depois entramos no site e lemos os comentários por e-mail, eles se vangloriando que de tinha sido a primeiríssima sessão do filme".

Há quinze anos no mercado, o diretor da Imovision revela que nunca havia sido vítima da pirataria. "Isso não tinha acontecido conosco, mas não importa se é um filme nosso ou de outra distribuidora. Dentro de quatro paredes a pessoa pode fazer o que quiser, pode baixar o filme e juntar amigos para ver, mas não como uma sessão pública, pegando na Internet, e depois se vangloriando", pontua Jean-Thomas, que lamenta, em especial, o fato disso ter "sido feito por universitários". "Quando a pessoa tem instrução, mais culpa ela tem. É que nem o juiz que faz uma falcatrua: ele deve ser condenado a uma pena maior do que o cara da favela que rouba. Espero, mesmo, que tenha sido ingenuidade da parte deles", vaticina o distribuidor.

Jean-Thomas Bernardini prefere crer em ingenuidade a pensar em leviandade na atitude dos integrantes do Barravento. Estes, por sua vez, optaram por não se pronunciar. Procurados pelo DIARIO, decidiram assumir o "nada a declarar". Uma pena. A palavra deles é o terceiro vértice do triângulo que sustenta esse imbroglio; de um lado, Jean-Thomas, a Imovision e os direitos de quem comprou o filme para exibi-lo - e cada cópia de Dogville, estrelado por Nicole Kidman e com 178 minutos de duração, custa R$ 4,5 mil -; do outro, o cineclube; no meio, a UFPE, instituição que cede o local e fornece equipamentos para as reuniões semanais do Barravento.

Chefe do departamento de Comunicação Social de universidade, o professor Alfredo Vizeu esclarece que o departamento, sem ingerência sobre a programação do cineclube, "não tinha conhecimento dessa sessão". "Não é postura do departamento qualquer infração às leis de distribuição. Desconhecemos a procedência do filme e como isso foi feito. Isso nos causa surpresa. Não acreditamos que os integrantes do Barravento tenham patrocinado esse tipo de atividade ilegal. É sabida da sociedade cineclubista, dos videastas e dos críticos a seriedade do trabalho do cineclube". defende Vizeu. "Lamento o ocorrido, mas garanto que estamos tomando as medidas cabíveis. Vamos conversar com os jovens do Barravento e com a distribuidora", acrescenta.

Ele considera "criminosa" a atividade de "recorrer à Internet para baixar o filme" e reitera que o departamento "de forma alguma autorizaria isso se fosse consultado", referindo-se ao que classifica de "infantilidade" e "irresponsabilidade" dos autores, quem quer que sejam. Na opinião do maior prejudicado, a tal "sessão secreta" não esvaziará a carreira de Dogville nos cinemas locais. "As cópias de Internet são ruins, não têm qualidade. Oproblema é que, de uma sessão para 30 ou 60 pessoas, pode surgir uma em uma sala de 500 lugares", reforça Jean-Thomas Bernardini, salientando que agiu para evitar que a "prática suja" abra um precedente. Em tempo: Dogville entra em cartaz daqui dez dias no Brasil, com cerca de 25 cópias, "em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais", adianta Jean-Thomas. E talvez no Recife.
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Nego é muito burro mesmo... porra, sessão pirata de filme dentro de universidade? Se eu fosse a distribuidora, só de birra deixava a cidade de fora do circuito, só por causa dessa merda. E colocava algum lugar obscuro no lugar, como Palmas, Porto Velho...

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