quarta-feira, 12 de maio de 2004

Olha aí...

12/05/2004 - 12h41m
Correspondentes estrangeiros dizem que expulsão de jornalista fere a liberdade de imprensa

Toni Marques - O Globo
Globo Online

RIO - A decisão do governo brasileiro de expulsar o jornalista Larry Rohter, correspondente do jornal 'The New York Times', do Brasil, repercutiu na imprensa estrangeira e foi interpretada como uma medida antidemocrática. Numa reportagem realizada por Rohter, o jornal americano afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria problemas com o consumo do álcool e que isso estaria prejudicando seu governo. Nesta terça-feira, o Ministério da Justiça divulgou uma nota cancelando o visto de permanência no país do Rohter.

A diretoria da Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira divulgou nota nesta quarta-feira criticando a decisão.

"Independentemente do conteúdo da matéria do jornalista Larry Rohter do New York Times, a Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira considera a revogação do visto, ou melhor, a expulsão dele do Brasil, um ato muito grave que fere a liberdade de imprensa e lembra os períodos mais obscuros da Historia do país. Lamentamos muito essa decisão que não está de acordo com os princípios de uma sociedade livre e democrática. Tememos que essa atitude drástica seja um aviso para os correspondentes estrangeiros no sentido de que para trabalhar no Brasil devem escrever matérias que agradem ao Governo.

A Diretoria".

O editor-executivo do New York Times, Bill Keller, criticou a decisão do governo brasileiro de expulsar seu correspondente do país. Segundo ele, a medida traz questionamentos sobre o compromisso do Brasil em relação à liberdade de expressão.

O porta-voz da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, o alemão Jens Glusing, disse nesta quarta-feira que a expulsão de Larry Rohter mostra que o presidente Lula parece ter tomado uma decisão de caráter pessoal.

- O presidente teve reação emocional, mas ele não pode levar este caso para o lado pessoal - disse Glusing, que espera que o trabalho dos correspondentes não seja prejudicado daqui para frente. A associação reúne no Rio de Janeiro 120 jornalistas.

- Nunca vi um jornalista ser expulso da América Latina por causa de uma reportagem - acrescentou ele, que mora no Brasil há 13 anos e, como o jornalista do "New York Times", é casado com brasileira.

A edição desta quarta-feira do jornal "The Washington Post", traz a reação da chefe da Associação de Correspondentes Internacionais no Brasil, Veronica Goyzueta, que trabalha para o jornal espanhol ABC. Para ela, a medida é um caso de censura e perseguição de um governo democrático.

- E de um governo formado por pessoas que sofreram perseguição - lembrou a jornalista.

A expulsão de Rohter também virou notícia na Argentina. O jornal "La Nacion" publicou uma reportagem sobre o assunto, maslembrou que o Brasil não é o primeiro país a ter problemas com Rohter.

A publicação informou que em julho de 2002 o correspondente acusou o ex-presidente da Argentina, Carlos Menem, de ter recebido US$ 10 milhões de um agente do Irã para encobrir uma suposta ligação do governo de Teerã com o atentado contra a Amia. Meses mais tarde, segundo o "La Nacion", o NYT publicou outra nota polêmica de Rohter que afirmava que os habitantes da Patagônia, ressentidos com o poder de Buenos Aires, fundariam uma república independente, que seria "escassamente povoada, mas próspera".

A decisão de o governo brasileiro de expulsar o correspondente do New York Times teve repercussão também na Espanha. O jornal "El País" publicou nesta quarta-feira uma reportagem sobre a medida em sua edição impressa e eletrônica.

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