terça-feira, 4 de maio de 2004

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Teenage ganha público recifense

Banda escocesa encerrou a primeira edição do festival No Ar: Coquetel Molotov

Marcelo Benevides

Quem pensava que o fato do festival No Ar: Coquetel Molotov ser realizado num teatro impediria o público de curtir shows de rock com um “pouco mais” de empolgação, estava enganado. Foi o aplaudido grupo sueco Hell On Wheels que deu a primeira ordem para as pessoas presentes no Teatro da UFPE, sábado, levantarem de suas cadeiras e dançarem, numa noite que ainda contou com os grupos locais Parafusa e Profiterolis, a carioca PELVs e a grande atração do evento, os escoceses do Teenage Fanclub.

O pop da Parafusa deu início ao festival com referências circenses e carnavalescas, intercaladas por leves introspecções do guitarrista e vocalista Diogo. O grupo foi bem recebido pelo público. Na seqüência, subiu ao palco a Profiterolis, que, apesar dos mais de dez anos de estrada, fez pouquíssimas apresentações durante sua existência. Com referências que vão de Mutantes (durante a década de 70) a Jorge Mautner, a banda teve direito a pedidos da platéia. O destaque ficou por conta da quase concretista Licor de Jenipapo (“esse licor de jenipapo já tá no papo”).

Tocando pela primeira vez no Recife, a PELVs fez um show curto, mas competente. Dando ênfase ao último disco, Peninsula, os cariocas abriram o repertório com a instigada Backdoor, para depois mergulhar em canções mais densas, a exemplo de Equador.

Mesmo sendo desconhecidos pela maioria do público, os suecos da Hell On Wheels conseguiram conquistar os presentes. Convocando o público para perto do palco, o vocalista Rickard Lindgren foi prontamente atendido. A enérgica performance do trio trouxe várias composições de Oh My God What Have I Done (2003), como She Was a Milkmaid and I Was a Gentleman, It’s Wrong Being a Boy, Nothing Is Left e outras antigas - uma das mais pedidas na “fila do gargarejo” foi The Soda.

Depois da apresentação da Hell On Wheels, as pessoas que compareceram ao festival já pareciam estar psicologicamente preparadas para a aguardada entrada do Teenage Fanclub - toda a trajetória do grupo escocês foi visitada em seu show, que durou cerca de duas horas. Gerard Love, Norman Blake e companhia abriram com About You, do disco Grand Prix. Continuaram com Start Again, What You do To Me, Verisimilitude, Speed Of Light, Mellow Doubt e Any Direction. Para saciar os delirantes fãs presentes, mostraram pérolas como The Concept e Sparky’s Dream.

Na terceira fila de cadeiras do teatro, os integrantes da Hell On Wheels curtiam o show do Teenage Fanclub. No palco, o grupo escocês se preparava para um bis de mais três músicas, incluindo Star Sign e uma canja do guitarrista Norman Blake nos teclados. A banda encerrou com Everything Flows.

“Gosto de Caetano Veloso e Tropicália”

Na tarde da última sexta-feira (véspera do festival), durante uma entrevista coletiva com os suecos do Hell On Wheels e com o aguardado Teenage Fanclub, ficava difícil distinguir se os jornalistas presentes se dirigiam ao grupo escocês como profissionais ou como fãs, tamanha era a descontração do encontro. Pela primeira vez tocando juntos no Brasil (o baterista Francis McDonald esteve no País no ano passado com o seu projeto, Nice Man), Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley - os principais compositores - conversaram por cerca de meia hora com a imprensa no hotel em que estavam hospedados, no bairro de Piedade.

Ao falar de Glasgow, cidade na Escócia onde foi originada a banda, Norman (guitarra e vocal), o mais extrovertido no bate-papo com os jornalistas-fãs, afirmou que, atualmente, está mais fácil fazer sucesso sem precisar sair daquele país. “Hoje em dia, temos gravadoras que ajudam bastante”, comentou. Em outro momento, Blake contou que a proximidade entre os grupos escoceses é muito forte - “você pode, a qualquer momento, encontrar com alguém do Mogwai”, brincou, citando o conjunto conterrâneo.

Perguntado sobre seu entendimento a respeito da música brasileira, o guitarrista afirmou: “gosto de Caetano Veloso e da Tropicália. Não conhecemos muitos artistas contemporâneos”. Falando do papel da internet na divulgação do Teenage Fanclub nos países em que a discografia completa do grupo ainda não é distribuída (a exemplo do Brasil), Norman declarou “que acha a rede uma coisa boa”.

Próximo ao final da entrevista, surgiu a pergunta: o Teenage Fanclub passou de influenciável (sempre se falou nas referências do grupo) a influenciadora de novas bandas? Norman respondeu, modestamente: “ficamos gratificados, mas continuo ouvindo coisas como Sonic Youth, Rolling Stones, The Animals e Big Star”.
(Folha de Pernambuco)

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