É muito estranho imaginar que um bom filme pode sair a partir de um livro de auto-ajuda. Mais estranho ainda é pensar que um filme chamado Ele Não Está Tão Afim de Você não seja um daqueles filmes-de-mulherzinha que depois que elas assistem, passam dias a fio tomando sorvete, comendo chocolate e xingando o espécime masculino. Pois bem: o filme passa por cima desses clichês e, de forma no mínimo honesta, entrega uma história bacana, verossímil e que agrada até a nós, homens.
Saindo do clichê da ambientação em Nova York, o filme dirigido por Ken Kwapis – que tem no currículo o bacana Quatro Amigas e um Jeans Viajante - tem como cenário Baltimore, uma cidade (bem) menor, o que contribui pra maior possibilidade daquele monte de gente realmente ter alguma ligação, ainda que curta.
Pois bem, vamos lá: Gigi (Ginnifer Goodwin, da série Big Love) teve um encontro bacana com Conor (Kevin Connolly, da série Entourage), mas fica martelando na cabeça se o pobre coitado vai ligar no(s) dia(s) seguintes ou não, no melhor gênero romântica incorrigível.
Já Janine (Jennifer Connelly), colega de trabalho de Gigi, tem um casamento um tanto frio com Ben (Bradley Cooper, de Sim, Senhor e Penetras Bom de Bico). E Ben conhece num supermercado a cantora Anna (Scarlett Johansson), namorada de Conor, que o deixa em parafuso. Outra colega de trabalho de Gigi é Beth (Jennifer Aniston), que tem uma relação mais ou menos estável com Neil (Ben Affleck), mas no fundo, ela quer que a relação evolua para um casamento de papel passado, e Ben é um tanto relutante com isso. E finalmente, temos Mary (Drew Barrymore), amiga de Anna que tem o hábito de procurar homens no MySpace ou em outras redes sociais similares, e Alex (Justin Long, de Duro de Matar 4), colega de apartamento de Conor e que acaba se envolvendo com… Gigi.
As tramas seguem um bom ritmo, alternando humor com drama em boas doses. Gigi é meio que a catalisadora das ações, especialmente o seu envolvimento com Alex, que distribui “lições de sabedoria” ao longo da trama, mostrando especialmente que os homens, quando vêem que a coisa não vai render, simplesmente desaparecem. Talvez para nós seja melhor que assumir na cara da garota que “olha, nosso encontro foi bacana, mas não vai sair disso. melhor não ficar remoendo nada nem achando que sou seu príncipe encantado”.
Nas outras tramas, Janine aos poucos surta ao começar a desconfiar das pequenas – ou nem tão pequenas – mentiras de Ben, que compromete seu casamento ao se envolver além da conta com as curvas de Anna. E Beth, depois de brigar e terminar com Neil, acaba percebendo, depois de um imprevisto familiar, que é com ele mesmo que ela pode contar. E Mary, depois de levar foras em pelo menos sete tecnologias diferentes, acaba percebendo que algo está bem mais próximo dela que uma página de MySpace.
Desse elenco numeroso e cheio de estrelas, destaque para a ótima química entre Ginnifer Goodwinn e Justin Long, que conseguem com facilidade conquistar a plateia. E o casal formado por Jennifer Aniston e Ben Affleck prima pelas atuações contidas dos dois, o que dá fé ao relacionamento na tela. Por outro lado, talvez Jennifer Connelly exagere um pouco na dose de paranoia e histeria (embora saibamos que aquele tipo de mulher existe de verdade) e Scarlett Johansson parece ter o tipo “loira, gostosa e conquistadora” programada como seu padrão. Não é ruim, mas fica a sensação de que ela adora repetir esse papel. Pelo menos ela não se meteu a cantar no filme (quando vi que o papel dela era de cantora, deu medo).
Dentre os papeis masculinos, Kevin Connolly está bem engraçado como o sem-noção Conor, e Bradley Cooper entrega bem o papel de Ben, especialmente nas cenas com Johansson.
No fim das contas, o roteiro bem escrito e a direção sutil acabam entregando um filme cheio de situações que provavelmente eu, você e aquela sua amiga encalhada do trabalho certamente viveram ou viverão algum dia. E tudo isso sem nada parecer forçado ou fora de lugar. Recomendo.
Um comentário:
Eu gostei bastante do filme também e sempre fico a me perguntar até quando a Scarlet vai querer encarnar a Marylin na tela...
Texto muito bom, fico feliz que tenha gostado e superado suas expectativas.
TÁ VENDO SE NAO SOU EU NA SUA VIDA?
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